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3 de ago. de 2012

Românticos Conspiradores

Thiago Baptistella Cabral
thiagobc1@gmail.com 

Para acessar uma das plataformas em que os Românticos Conspiradores se relacionam clique aqui 

Um salão com um grande círculo formado por mais de 150 apaixonados por educação provenientes de cinco estados do Brasil. De pé, assim como na ladainha de capoeira "sou discípulo que aprende e mestre que dou lição", duas pré-adolescentes de 12 e 13 anos respondiam, há quase 20 minutos, perguntas dos educadores - no sentido mais amplo que esta palavra possui - sobre como funcionava a escola em que elas estudavam. Ao serem perguntadas a respeito de como era a interação das crianças ditas "normais" da escola com as crianças com necessidades especiais, a aluna Mariana respondeu: eles interagem com a gente, trabalhamos nos mesmos grupos, às vezes a professora faz algumas aulas específicas com eles, mas o relacionamento é muito bom e normal. Ao seu lado pede a palavra Alice, sua amiga do 8º ano: não são "eles"... somos "nós". Este é o tom do 3º Encontro Nacional da rede Românticos Conspiradores. 

Salão da EMEF Amorim Lima (São Paulo-SP)durante o início do encontro, para acessar o site clique aqui


A escola em que as meninas estudam e local onde ocorreu o primeiro dia do encontro é a Escola Municipal de Ensino Fundamental Amorim Lima, localizada na capital de São Paulo. Uma escola como qualquer outra, mas que decidiu entrar em um processo de horizontalização das relações, como disse Alice: "tudo o que acontece nesta escola passa pelo ouvido dos alunos. Se vão pintar uma parede de vermelho, você pode ter certeza que os alunos opinaram". As relações são mais democráticas também no currículo, em que os alunos montam roteiros de estudo com seus tutores (professores) e estudam em grupos de interesse. Os pais de alunos, naturalmente corresponsáveis pela educação dos seus filhos, também estão presentes para discutir o projeto de educação e a tomar decisões políticas da escola, estavam presentes no encontro. 


Plenária no domingo à tarde no circo do Projeto Âncora (Cotia-SP), para saber mais clique aqui



No domingo todos fomos à cidade de Cotia-SP, nos reunimos e conhecemos o Projeto Âncora. Este projeto social, que também é uma escola longe dos moldes tradicionais, foi definida pelo professor de música como "uma banda de jazz. Nela, parece que as pessoas fazem tudo de uma hora para outra de forma improvisada, mas, para que aquilo fosse feito, foi preciso que os artistas estudassem muito, eles sabem muito bem o que estão fazendo". A coordenadora pedagógica contava uma história em que a mãe de um dos alunos dizia "Nossa, tenho tanta coisa para fazer que nem sei por onde começar", ao passo que seu pequenino filho respondeu "mãe, você precisa fazer um planejamento. Se você quiser eu te ajudo". 


Alunos da Escola Estadual Hegésippo Reis (Natal-RN) realizando uma assembleia,
 para acessar o site clique aqui


Caro leitor, se você pensa que esta escola é algo pontual e distante da sua realidade, saiba que escolas assim, com equipes que ousam fazer diferente não são exclusividade de São Paulo. Há três anos eu vim de São Paulo a Natal para aprender mais sobre educação com o Projeto Casa de Saberes, realizado na Escola Estadual Hegésippo Reis. Participei do dia a dia da escola, de reuniões pedagógicas, reuniões de pais, assembleias semanais presididas pelos alunos. Hoje, quando volto na escola vejo que as relações de alunos, pais, equipe pedagógica e comunidade estão mais fortes, e vejo a escola caminhando, crescendo, aprendendo e melhorando no seu percurso. 


Livro do Agostinho em que retirei a frase
para acessar mais conteúdo sobre ele clique aqui


Como dizia o professor Agostinho da Silva "a nossa existência é um barco que atravessa frequentes tempestades. Estamos agora numa, e bem ruim. O segredo para resistir é não olhar pela borda fora, se não enjoamos e fazemos os outros enjoar. O segredo é olhar o horizonte, mesmo sabendo que não chegaremos lá". Nenhum projeto de educação é pronto e acabado, assim como o ser humano não é. Desafios sempre existem e existirão, mas isso não impede às pessoas de olhar o horizonte e seguir em sua direção. A beleza está no percurso escolhido e construído, e isso faz toda a diferença na educação das crianças e adultos que fazem parte destes projetos. 


Para fazer o download de Pedagogia do Oprimido clique aqui


Não ousarei definir o que são e quem são os "Românticos Conspiradores". Espero que a leitora ou o leitor, que de alguma forma se sentiu tocado(a) pelo que leu, entre em contato e faça parte da Rede. Eu diria que a rede Românticos Conspiradores é formada por pessoas comuns das mais diversas áreas, todos de alguma maneira envolvidos com uma educação que seja, ela mesmo - como diria o romântico conspirador Paulo Freire - "a criação de um mundo onde seja menos difícil amar". 


Thiago Baptistella Cabral, biólogo e educador, escreve a convite do Instituto de Desenvolvimento da Educação (IDE), que publica artigos de opinião no jornal Diário de Natal às sextas-feiras. Texto publicado em 03/08/2012

Obs: para ler o texto no site do jornal Diário de Natal, clique aqui (é o texto de baixo).